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El caballero y su triste figura.



- Devem ser escondidos. Não podem ser ditos.
Em volta, toda a mesma inércia que assustava. Aquelas coisas estavam diferentes, "mas, em quê?". Perdeu-se no que não havia mudado, ignorou as pequenas revoluções no dia-a-dia?

Algum tempo que as janelas precisam ser limpas. Pó, pó e muito pó se acumulam nos peitoris destas, assim como as contas à beira da soleira da porta. Os tacos do chão, muito gastos dos diversos bailes ali oferecidos. Uma mancha rubra no chão.
As outras janelas estavam marcadas por olheiras. Uma ou outra lágrima, limpando-as. Não entendeu como ficou tudo assim. Ficou, e pronto.

A retórica não saciava. Não adianta, palavras nem sempre expressam sentimentos.
Era mais um dia comum. A rotina mais uma vez se desenrolava e, magicamente, enrolava-se enquanto estava a dormir. Isto sabia porque, na manhã seguinte, ela se desenrolava da mesma maneira. Até os minutos eram os mesmos. Despertador às 5h40. Banho, 6h. Café... E o mesmo, o mesmo, o mesmo. A rotina bela. Ou feia, maquiada de bela.
Respeitava todos os padrões. Religioso, bom partido, mesmos padrões que a tradição sempre mandou. E que sempre obrigará. Nas fotos, o belo rapaz. No espelho, o Cavaleiro da Triste Figura. Era o Quixote preso pelos moinhos. "Não se mente para o espelho".
Algo gritou. Ou alguém. Um sonho, um alter? Era uma pulsão. Um íntimo querendo visitá-lo, um prisioneiro querendo resgate, um sequestrado desejando sair do cativeiro. Uma pulsão por liberdade. Porquês e porquês inundaram a mente,
que, de tão presa, bitolada, fundiu.

[Publicado em resposta ao conto Oração Imperceptível, de Marielle Sant'Anna. O conto dela está em: http://academiadeneuronios.blogspot.com/2010/09/oracao-imperceptivel.html]

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