Pedidos de ajuda em ônibus, calçadas, caminhos nem sempre tocam. Aliás, na maioria das vezes, incomodam. E, aquelas veias saltitavam no pescoço magro. A voz, cortava, tão aguda e fraca. O rosto todo contorcido, um enorme esforço para dizer uma única sílaba que seja. Olhos vidrados. Não, eram as lágrimas que assim os deixavam. Isto pelo pouco que dava para ver. Afinal, havia aquela multidão. Ônibus cheio, a mulher encostada numa barra próximo aos elevadores, na porta do meio. Em pé no corredor um ou outro, obstáculos, impedindo que aos ouvidos dela chegassem qualquer consolo.
*****
Saiu tarde do trabalho. Correria de sempre, pegar um ônibus aqui, que está passando, correr para alcançar, ahn, um banco, "graças a Deus". O melhor é que era no fundo, sem perigo de alguém pedir o banco. Chegou no ponto onde descia, encontrou uma antiga colega de escola. Que sorria, convidando a uma conversa. Não, não dava. Olha o outro ônibus ali...
Foi para o fundo. Desta vez, não tinha assento disponível. Encostou-se numa barra, na porta dos fundos da condução. Aquele burburinho. Todos felizes, ou querendo demonstrar felicidade, conversando, dividindo o dia. Acho que ele remoía alguma coisa do dia. Ou estava mandando alguma sms.
Barulho, barulho, barulho. Então, uma voz cortante passa a arranhar os ouvidos, pedindo algo. Ai, ai. Aqui não. E, termina a petição. "Alguém pode me ajudar?". Ninguém ouve.
*****
Era mais um dia de ônibus. Tinha uma companhia agora. Sentado, num dos bancos, numa linha meio cheia. Mas era diferente. Tinha alguém, uma pessoa pedindo ajuda. Querendo um pouco de ajuda. Mas, todos, tão entretidos, não ouviam. Alguém solta um "o quê?". Então, ele levanta sua voz. "É um menino, que tem um futuro lindo, se ajudarmos ele hoje". A mãe, com o filho nos braços, então, clama. "Por favor, por favor, me ajude!". Mais e mais alto.
Houve ajuda. O garoto, agora, teria leite. A mãe, soropositiva, um pouco menos aflita. Todos os corações se afligiram. Mas, o bem mais precioso, que um deles tinha, não foi nem oferecido. Nem uma palavra. Nada sobre Ele.
0 comentários:
Postar um comentário